Recentemente, a editora Planeta firmou uma parceria com a editora da
comunidade religiosa Canção Nova e passará a publicar obras voltadas
para os católicos. A Planeta já havia anunciado em meados de 2014 o selo
Pórtico, destinado ao público evangélico. No começo deste ano, a
HarperCollins, uma das gigantes do mercado editorial mundial, também
entrou no segmento de livros do gênero no Brasil ao comprar a maior
parte da editora Thomas Nelson.
A aposta nesse nicho deverá
fomentar ainda mais um setor que já movimenta, segundo pesquisa Fipe de
2013, feita em parceria com a Câmera Brasileira do Livro (CBL) e o
Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel), R$ 500 milhões por ano
no país, com a venda de mais de 70 milhões de exemplares –números que,
sem dúvida, devem ser muito maiores, pois os próprios organizadores do
levantamento admitem que muitas editoras do setor permanecem
desconhecidas ou preferem não revelar suas vendagens.
Além
disso, do filão religioso surgem best-sellers que extrapolam esse tipo
de público, sendo vistos como de autoajuda, com autores como os padres
Marcelo Rossi (que já vendeu mais de 10 milhões de exemplares de seu
"Ágape") e Fábio de Melo ou a sacerdote budista monja Coen. Também
entram no balaio nomes e títulos que historicamente são campeões de
vendas, como o espírita Chico Xavier e a Bíblia.
À margem do mercado convencional
Segundo André Fonseca, editor da Planeta responsável pela Pórtico e a
parceria com a Canção Nova, os livros religiosos estão inseridos em um
mercado ainda invisível aos olhos do meio editorial convencional. "Há um
viés comercial que desconhecemos, com lojas específicas que faturam
milhões, com autores que vendem muito, mas o [portal sobre o mercado
literário] PublishNews não vê, a CBL [Câmara Brasileira do Livro] também
não consegue acompanhar."
São editoras e livrarias pequenas,
médias e grandes, que têm ligação com ordens religiosas e focam um
público totalmente específico, seja ele cristão, evangélico ou fiel a
qualquer outra crença. Exemplificando, Fonseca cita a editora CPAD (Casa
Publicadora das Assembleias de Deus), do Rio de Janeiro. Trabalhando
com títulos que vão desde obras gerais até apostilas para a formação de
líderes e pastores, segundo o editor, a CPAD tem faturamento semelhante a
lojas de grandes redes, como a Cultura e a Saraiva. O mercado cristão é pouco profissionalizado, mas é altamente
rentável. Também existem grandes distribuidores que trabalham com esse
tipo de conteúdo, como a Distribuidora Aliança, que vende para o país
inteiro", explica Fonseca atendo-se ao público-alvo da Canção Nova, que,
além de selo editorial, é ministério, rede de televisão e possui uma
espécie de império em Cachoeira Paulista, no interior de São Paulo.
Como outras editoras do segmento, a Canção Nova cresceu vendendo seus
produtos –não apenas livros, mas também CDs, DVDs, terços,
santinhos...—por meio de catálogos, que são, em alguns casos, os mesmos
utilizados para a comercialização porta a porta de cosméticos. Agora,
com a parceria com a Planeta, a Canção ganha força para entrar nas
grandes redes de livrarias. "Eles tinham problema de penetração,
distribuição, não dominavam o trabalho de marketing dentro das lojas, a
compra de espaços, tudo isso", diz o editor, citando algo comum a grande
parte das editoras religiosas: a falta de conhecimento de como funciona
o mercado editorial comum.
Vasto conteúdo
O conteúdo dos livros religiosos pode ser tão vasto quanto uma pesquisa
sobre o ateísmo na obra de C. S. Lewis, autor de "As Crônicas de
Nárnia", estudos acadêmicos sobre as religiões afrodescendentes ou uma
simples parábola que remete a passagens bíblicas.
Entrando no
meio das publicações destinadas ao público evangélico, as obras costumam
ter perfis diferentes de acordo com as igrejas às quais estão ligadas.
No Brasil, o meio é hoje dividido em três grandes ramificações: as
Igrejas Históricas, as Pentecostais e as Neopentecostais (veja mais
informações no box). É do último grupo citado que costumam surgir
líderes polêmicos, que pregam intolerância contra outros grupos
religiosos. Por isso, muitos imaginam que o conteúdo dos livros ligados
ao segmento neopentecostal tenham esse tipo de conteúdo.
Renato
Fleischner, diretor da Mundo Cristão e membro da Associação das Editoras
Cristãs, não descarta essa possibilidade, mas faz uma importante
ponderação. "As principais editoras do segmento sabem das implicações
legais de publicar material com viés discriminatório, mas o mercado
editorial evangélico também é composto por obras produzidas no sistema
de autopublicação [publicação independente on-line]. Neste caso, podem
realmente ocorrer abusos."
O mercado cristão é pouco profissionalizado, mas é altamente rentável
Fleischner lembra também o número de Bíblias vendidas no país. Segundo ele, as evangélicas, com sete livros a menos do que as católicas (saem Tobias, Judite, Macabeus 1 e 2, Baruque, Sabedoria e Eclesiástico) vendem atualmente 9,5 milhões de exemplares por ano, sendo que, desde 1950, mas de 120 milhões de unidades já foram distribuídas.







