Para Lúcio Cardoso, em toda obra de Clarice Lispector alguma coisa
íntima está queimando. E este é o seu segredo de mulher e escritora.
Em A maçã no escuro esta chama queima pacientemente enquanto se
narra a trajetória de um homem. Um homem, um crime, uma fuga. Como se
fosse possível retroceder os ponteiros do relógio, zerar o tempo marcado
e, então, começar outra vez. Martim, um fugitivo, começa a se
reinventar, a manufaturar o próprio destino: "Ele se tornou o centro do
grande círculo e o começo arbitrário de um caminho."
A maçã no escuro é um romance dos anos 1950. Realizado durante o
tempo em que a autora viveu nos Estados Unidos, foi concluído em
Washington, em 1956. Mas só seria publicado em 1961, um ano depois de
Laços de família, cujos contos primorosos conquistaram um expressivo
público para Clarice Lispector. Os dois livros foram escritos
simultaneamente e selam o amadurecimento da escritora. Situado entre
obras decisivas do percurso literário de Clarice, A maçã no escuro
fulgura como um romance denso e habitado por personagens comuns, mas que
eleva o enredo a níveis impensáveis de transcendência. Embrionárias
estão as questões centrais que vão eclodir em A paixão segundo G.H.,
depois do qual o romance brasileiro jamais será o mesmo. Clarice
inaugura uma outra linha de tradição literária, porque desestabiliza as
estruturas romanescas e cria parâmetros totalmente inovadores de
representação.
Mais informações: Editora Rocco